1. As lesões acontecem mais por falta de preparo físico adequado ou por azar do atleta?
As lesões mais comuns surgem das faltas praticadas pelos adversários. A gravidade desses esbarrões é relativamente pequena, entretanto, as estatísticas mostram que de 10% a 23%, no máximo, resultam em afastamentos de treinos ou jogos.
Mas o preparo físico também interfere. O atleta que treina em excesso, dorme pouco, tem sono não repousante, não se alimenta bem ou mesmo que faz ou fez uso de anabolizantes são os mais propensos a terem problemas. O aquecimento ealongamento, antes do exercício, são vitais para evitar lesões.
2. Qual a área do corpo mais vulnerável entre os jogadores de futebol?
As entorses do tornozelo são as lesões mais comuns do futebol, representando 17% a 20% do total. As lesões de joelho constituem em torno de 16% de todas as lesões em homens. O problema destas últimas é que, quando ocorrem, exigem maiores períodos de ausência do que as demais e até cirurgias de reparação. O cenário só muda com os goleiros, que penam mais com problemas nas mãos, normalmente fraturas nas falanges dos dedos.
3. Por que os joelhos são tão sensíveis?
Ao contrário do quadril, que é uma articulação profunda e muito estável por ser muito bem encaixada, o joelho é uma articulação plana e mais instável, além de superficial. Ele também fica bem no meio entre a cintura e o solo sofrendo na maioria das vezes o trauma direto do chute ou de uma dividida.
Ele ainda está sujeito a grandes forças de rotação, principal mecanismo para a lesão dos meniscos e ligamentos cruzados. Sem se esquecer que os joelhos, como os tornozelos, não têm um envoltório muscular para protegê-los.
4. Qual a melhor maneira de proteger cada uma dessas áreas?
Fortalecer a musculatura, alongar, aquecer e, principalmente, nunca jogar quando estiver cansado. E, durante os jogos, nunca dispensar equipamentos como uma tornozeleira e uma caneleira.
5. Qual o papel dos equipamentos de proteção?
Existem joelheiras e tornozeleiras muitos eficazes na prevenção de lesão minimizando um pouco as chances de acidente. Os equipamentos também ajudam quem já sofreu algum acidente e, mesmo assim, insiste em jogar.
6. Exercícios de fortalecimento muscular servem para proteger contra que tipo de lesão?
Fraturas causadas por estresse da musculatura, lesões dos ligamentos e dos meniscos.
7. Que lesões ocorrem com freqüência? Como prevenir cada uma delas?
A mais freqüente é a lesão do menisco do joelho e entorse do tornozelo. Em segundo lugar, vêm as lesões do ligamento cruzado anterior. Existe uma lesão ainda pouco diagnosticada porém muito frequente: a do labrum acetabular (menisco do quadril) e que causa dor na virilha.
O tratamento desta última geralmente requer uma artroscopia do quadril, tema de minha dissertação de mestrado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
8. O aumento de peso pode levar a que tipo de problemas?
O aumento de peso favorece os riscos de lesão, porque sobrecarrega as articulações, além de aumentar as chances de um problema cardiovascular.
9. Que exames um jogador deve fazer (e com que intervalo) para garantir que não sofrerá com surpresas desagradáveis?
Um bom exame clínico com um médico especialista em esportes. Os exames incluem uma análise das articulações pela palpação, no mínimo. Felizmente, nenhuma máquina será capaz de substituir esta nossa sensibilidade.
10. Na fase de recuperação, que exercícios são permitidos? O que pode ser feito para acelerar o tratamento?
A recuperação é específica para cada tipo de lesão. Felizmente hoje em dia temos uma tecnologia para acelerar a regeneração esportiva muito utilizada na Europa e já presente em nosso meio, chamada de PST (terapia por sinais pulsáteis ou Pulsed Signal Therapy).
Estes sinais eletromagnéticos determinam o estímulo para as reações de regeneração e estimulação, ou seja, da manutenção e reparo dos tecidos danificados.
É uma forma não invasiva para tratar disfunções músculo esqueléticas, tais como lesões ligamentares e musculares, assim como lesões degenerativas como osteoartrose, hérnias de disco, fraturas de stress e tudo que envolva problemas nos músculos e articulações.
O PST é uma terapia que veio para ficar e cada vez mais será utilizada nos esportes. Isso já acontece em países como a Alemanha, onde a maioria dos grandes clubes de futebol já dispõe do aparelho em suas instalações de reabilitação. Esta tecnologia já existe há mais de 20 anos e, felizmente, já existe no Brasil.
Depois de pegar pesado na academia, nada melhor que receber uma relaxante massagem. Dá até vontade de dormir, enquanto os músculos cansados se recuperam do desgaste físico. Um recente estudo canadense, no entanto, contesta a eficácia do procedimento para este fim.
O pesquisador Michael Tschakovsky, da Universidade de Queen, em Kingston, realizou uma pesquisa para verificar a relação entre massagem e recuperação do tecido muscular.
Especialista em irrigação sanguínea muscular, Tschakovsky explica em seu estudo que o músculo precisa de sangue para receber nutrientes e se recuperar mais rapidamente. Além disso, o sangue favorece a eliminação do ácido lático, substância associada à fadiga muscular e uma das responsáveis por deixar o músculo dolorido depois da malhação.
Eficiente ou não na recuperação muscular, a massagem ajuda a relaxar
Em seu estudo, o pesquisador canadense selecionou 12 jovens saudáveis e do sexo masculino. Os voluntários tiveram de passar dois minutos apertando uma espécie de alicate, próprio para exercitar o antebraço. O movimento era ininterrupto e feito com 40% da força máxima dos jovens.
Ao término da atividade, os voluntários estavam com o coração acelerado e chacoalhando os braços, em sinal de fadiga. O nível de ácido lático, mensurado por um cateter, também estava bem mais alto.
O grupo foi dividido em três subgrupos. O primeiro simplesmente descansou por 10 minutos, na chamada recuperação passiva. O segundo passou o mesmo período realizando exercícios leves. Eles apertavam o alicate de forma intermitente, com apenas 10% de suas forças. Por fim, o último grupo desfrutou de uma relaxante massagem. Um massagista esportivo certificado foi escalado para o serviço.
Nos voluntários massageados, o resultado foi justamente o oposto do esperado. Eles registraram a menor irrigação sanguínea entre todos os grupos. A massagem diminuía momentaneamente a alimentação do músculo exercitado. Embora ela fosse recuperada no instante seguinte, o balanço após 10 minutos não foi nada animador.
O fluxo sanguíneo do antebraço foi mensurado por ultra-som, enquanto a concentração de ácido lático era monitorada por amostras de sangue.
O grupo da recuperação ativa, que fez exercícios leves, teve um resultado bem melhor. Mesmo assim, o pesquisador constatou que a contração muscular, embora leve, também comprimia os vasos sanguíneos do músculo, prejudicando sua irrigação. O melhor resultado foi obtido pelo grupo da recuperação passiva.
"A massagem impede a remoção do ácido lático dos músculos exercitados", afirmou o pesquisador, em seu estudo. O trabalho foi publicado na "Medicine and Science in Sports & Exercise."
Fibras brancas e fibras vermelhas
Os exercícios de baixa intensidade são bem vistos como alternativa de recuperação por Jomar Souza, diretor da SBME (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte). "A atividade leve melhora a circulação sanguínea e ajuda na eliminação de ácido lático", afirma. O médico comenta que essa forma de recuperação é bastante utilizada em atividades como futebol. "Muito jogadores fazem hidroginástica depois do treino", comenta.
Futebol é um exercício chamado de aeróbico, diferente do exercício usado no experimento canadense. É neste ponto que contesta Alexandre Cavalieri, coordenador da faculdade de Fisioterapia da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo).
Exercícios de academia, como o levantamento de pesos, são anaeróbicos. Eles agem sobre as fibras brancas, que possuem um metabolismo próprio. "Elas não se beneficiam tanto com a irrigação sanguínea", comenta o fisioterapeuta. Logo, a massagem tem pouco impacto.
Já exercícios aeróbicos ativam fibras vermelhas, que precisam mais de irrigação sanguínea. "Neste caso, a massagem vai ajudar na recuperação", garante. Mesmo assim, o fisioterapeuta reconhece que existem estudos conflitantes sobre o assunto. "Isso acontece porque a fisioterapia ainda é uma ciência nova", avalia.
Uma contraindicação unânime entre os especialistas é para o caso de lesão muscular. "Se isso acontecer, a massagem pode piorar a situação", alerta Cavalieri. Mas e nos demais casos, fazer ou não fazer a massagem? Apesar das teses conflitantes, nenhuma delas sugere evitar a massagem sob risco de danos sérios à saúde. O máximo que pode acontecer é uma recuperação mais demorada.