Muito comumente observamos que os agachamentos são descritos equivocadamente como exercícios de flexão do joelho, quando na realidade são exercícios de extensão dessa articulação, proporcionados pela contração dinâmica concêntrica do quadríceps femoral.
Os agachamentos tradicionais são utilizados em larga escala nas aulas de ginástica localizada, e alguns deles na musculação, com o objetivo de desenvolver a principalmente a musculatura do quadríceps. Podem se realizados com pés paralelos e com pequeno afastamento e suas variações tais como "Jairzinho" ou "borboleta", ou com rotação externa do quadril e maior afastamento dos pés, e finalmente afastamento frontal dos pés paralelos e suas variações com passadas. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados para que os efeitos desses exercícios não proporcionem resultados nocivos à articulação do joelho.
Deve ficar claro que no exercício de agachamento não executamos apenas a flexão e a extensão da articulação do joelho, este movimento não é apenas em forma de dobradiça, na verdade, observamos uma combinação de três movimentos: rolamento, deslizamento e rotação. Ou seja, o fêmur rola, desliza e gira sobre a tíbia e/ou vice-versa.
Kendall/McCreary (1986) assim colocam: "Com a coxa fixada, o movimento que acompanha a flexão é a rotação medial da tíbia sobre o fêmur; com a perna fixa, o movimento é a rotação lateral do fêmur sobre a tíbia".
A compreensão desses mecanismos é de fundamental importância na orientação e execução dos agachamentos, e poderia ser resumido do seguinte modo: quando agachamos, o fêmur gira lateralmente sobre a tíbia e no retorno deste agachamento (extensão do joelho) o fêmur gira medialmente em relação à tíbia.
Este mecanismo de parafuso oferece estabilidade mecânica para o suporte de forças que ocorrem no plano sagital. Ele permite aos humanos permanecerem eretos sem contração muscular do quadríceps, e suportar forças ântero-posteriores sobre o joelho estendido com força muscular reduzida.
Um desses efeitos indesejados encontra-se diretamente ligado ao grau de flexão do joelho quando realizamos o agachamento.
A musculatura do quadríceps, responsável por realizar o trabalho dinâmico positivo durante a extensão do joelho, exerce duas forças de compressão sobre a articulação patelo-femoral, tanto na fase concêntrica quanto na fase excêntrica do agachamento. Quando os joelhos encontram-se flexionados, há uma força que se origina na patela puxando-a numa direção superior, representada pela força de contração exercida pela musculatura do quadríceps (força Q). Na extensão há uma outra força originada na patela e em sentido inferior, fixando-a para que não se desloque proximalmente, representada pela força de fixação exercida pelo ligamento ou tendão patelar.
Como forças divergentes que são, encontraremos a força resultante dessas duas forças primárias aplicando-se a "Lei do Paralelogramo". A utilização dessa regra nos proporciona a possibilidade de demonstrar graficamente a dimensão e a intensidade dessa força resultante, onde a magnitude dessa resultante dependerá diretamente do ângulo formado entre essas duas forças originais. Portanto, podemos observar que quanto menor for esse ângulo (caracterizado por uma maior flexão dos joelhos durante os agachamentos) maior será a força resultante sobre a patela "empurrando-a" em direção aos côndilos femorais denominada como força de coaptação.
Os efeitos deletérios desse trabalho estão relacionados ao excessivo aumento dessa força de coaptação provocando desgaste da cartilagem patelar.
Este mecanismo é corroborado pela avaliação do braço de alavanca de resistência. Quando estamos de pé, com os joelhos semiflexionados, a linha de projeção do centro de gravidade passa a 5cm atrás do eixo de movimento da articulação do joelho. Quando agachamos essa linha gravitacional desloca-se em sentido posterior aumentando, portanto o tamanho do braço de resistência. Com isso, a força muscular gerada terá que aumentar para poder, no mínimo, estabilizar todo esse sistema de força. Assim, a pressão sobre a patela aumenta consideravelmente. Quando o braço de resistência aumenta de 5cm para 15cm a força desenvolvida pelo quadríceps também triplica de 600N para 1800N.
Se associarmos um movimento de rotação dos joelhos (principalmente rotação lateral da tíbia em relação ao fêmur) a essa condição de flexão, a possibilidade de lesão por microtraumatismos se transforma em realidade, e comprometerá estruturas como o próprio ligamento colateral medial e o menisco medial, assim como também o ligamento cruzado anterior e todos os tecidos moles que atravessam o joelho. "Como o menisco medial se funde com o ligamento colateral medial, ele é facilmente lesionado quando submetido a forte stress, se estiver numa posição "artificial". Quando em seguida flexionamos o joelho e o forçamos medialmente, o ligamento colateral medial é alongado, podendo com isto romper o menisco, que está firmemente posicionado entre o fêmur e a tíbia" Wirhed (1986,46). Esse dado é particularmente importante para os exercícios do tipo "borboleta", onde a rotação que acontece deve ser em nível de quadril com os calcanhares como ponto de apoio e as pontas dos pés seguindo a direção assumida pelos joelhos.
"A flexão extrema do joelho, a posição de cócoras e a "marcha de ganso" têm sido condenadas pela National Federation of State High School Atlhetic Associations e Committe on the Medical Aspects of Sports da American Medical Association, como sendo potencialmente lesivas para as estruturas internas e de sustentação da articulação do joelho. Essas entidades assinalam que, quando o pé está fixo, não pode ser feita a rotação normal da tíbia. O resultado é um aumento da tensão sobre os ligamentos e as cartilagens do joelho flexionado. Segundo eles, tais posições podem distender as estruturas de sustentação e predispor a lesão da articulação, ou mesmo causar uma ruptura do menisco medial" (Rasch/Burke 1977, 362).
Wirhed (1986, 49) coloca que "a regra fundamental de nunca executar agachamentos acentuados com carga complementar (pesos, velocidade) deveria, portanto, ser realmente respeitada".
Ao considerarmos a componente cardio-respiratória, para a prescrição de exercício, é necessário abordar quatro factores: o modo de exercício, a frequência de participação, a duração da sessão e a intensidade (McArdle et al., 1998; Wilmore e Costill, 2001). A prescrição de exercício assenta principalmente nestas componentes da carga e são as suas variações que promovem as diferentes adaptações cardio-respiratórias, bem como o tipo de metabolismo energético predominante no modo de exercício realizado.
Para desenvolver esta componente, várias instituições e autores especificam um tipo de exercício físico com 20 a 60 minutos de duração, 3 a 5 vezes por semana, a uma intensidade de 60 a 90% da FC máx., com uma variedade de modos de exercício, tais como, caminhar, andar de bicicleta e nadar (ACSM, 1990; ACSM, 1998; Bezner, 1999) (ver quadro 1).
De uma forma geral, a prescrição do exercício com a finalidade de melhorar ou manter a aptidão cardio-respiratória deve basear-se nestas recomendações. Deste modo, torna-se importante considerar a quantidade da actividade física, como também a qualidade, para atingirmos níveis óptimos de aptidão física (ACSM, 1998). No entanto, a prescrição deve também assumir características específicas, indo de encontro às preferências e gostos particulares de cada indivíduo, tais como: as suas necessidades, objectivos e estado de saúde (ACSM, 1998).
Particularmente no domínio cardio-respiratório, a consecução de objectivos implica que a intensidade do esforço seja cuidadosamente controlada e avaliada pelo conjunto da adaptações a ela inerentes (Abrantes et al., 1999).
Para quem pratica exercícios, as dores nas articulações podem tornar o treino muito menos prazeroso e muitas vezes impraticável. Por isso, pessoas que sofrem com artrite deixam uma rotina saudável de atividades físicas por não suportar o incômodo. "Acontece que a artrite pode favorecer o aparecimento de outros problemas. Como as articulações ficam mais doloridas, os indivíduos ficam mais propensos ao sedentarismo, que pode causar obesidade, problemas cardíacos e ortopédicos", explica o fisiologista do esporte Raul Santo de Oliveira, da Unifesp.
É importante exercitar-se para manter as articulações saudáveis. Quando o corpo está ativo, as articulações ficam mais flexíveis e tem suas funções motoras preservadas, mesmo com a artrite. Além disso, músculos mais fortes evitam que as juntas se deformem.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é tão simples ignorar a dor e entrar em uma rotina saudável. Isso, na maioria das vezes, é até desaconselhado. "Manter uma região inflamada em constante movimento ou contato, impede que o organismo consiga se recuperar. Fazer exercícios que forçam as articulações durante um processo inflamatório é o mesmo que ficar tirando a casquinha de um machucado. A lesão nunca irá cicatrizar e o desconforto só irá piorar", explica o fisioterapeuta do esporte e de ortopedia, Evaldo Bósio, diretor clínico da Prime, fisioterapia especializada.
Existem vários tipos de artrite, mas os mais comuns são a piogênica aguda e a artrite reumatoide. Para continuar com o corpo em movimento é preciso adaptar a rotina de exercícios de acordo com o tipo de inflamação nas articulações. Tanto o fisiologista quanto o fisioterapeuta ressaltam que é importante o aval de um médico antes de começar a fazer qualquer tipo de atividade, principalmente se a artrite faz parte da sua vida.
Quando a artrite é causada por um trauma ou uma lesão, ela é chamada de artrite aguda ou piogênica. As regiões mais afetadas por esse problema são o joelho e o tornozelo. Nessa situação, os exercícios podem esperar até que a inflamação esteja sobre controle. "Depois que o processo inflamatório nas articulações se apresenta em uma fase já assintomática, exercícios que trabalham a musculatura e protegem as articulações já podem ser feitos", explica o fisioterapeuta.
Para manter a musculatura apta a repetir os movimentos do dia a dia, muitos dos exercícios repetem os esforços feitos no cotidiano. "Os exercícios para quem sofre com artrite normalmente não envolvem pesos ou são feitos com carga muito reduzida. É comum treinos que imitam movimento de acelerar um carro ou subir uma escada, por exemplo, para fortalecer os músculos mais usados", diz Evaldo Bósio.
Nesse caso, o acompanhamento de um médico é ainda mais importante, já que as dores e inflamações são crônicas e causadas por fatores genéticos. "O exercício físico é um coadjuvante no tratamento com remédios. O médico, ao analisar o estado das inflamações nas articulações, pode diagnosticar alguns exercícios que ajudam a diminuir o avanço dos sintomas da doença", explica Raul Santo de Oliveira.
"Por causa das dores comuns na artrite reumatoide, muitos indivíduos deixam de praticar esportes, o que pode trazer malefícios à musculatura a as próprias articulações", diz o fisiologista. É por isso que muitos médicos indicam os exercícios como coadjuvante no tratamento à base de remédios para a artrite.
A natação é um ótimo jeito de aumentar o condicionamento das juntas de todo o corpo. "Ela é uma boa escolha, já que trabalha com o fortalecimento de grandes grupos musculares sem causar tensão nas articulações, além de condicionar o sistema cardiovascular", explica o fisiologista Raul Santo.
A hidroginástica também provoca os mesmos benefícios. Como a água amortece os impactos dos pés com o chão, e oferece maior resistência que o ar, a ginástica feita dentro da piscina traz um maior gasto calórico sem prejudicar as articulações.
Quando os exercícios tradicionais se tornam muito difíceis de serem feitos, os exercícios isométricos são uma maneira alternativa de fortalecer os músculos e proteger as juntas corporais. Esse tipo de exercício consiste em forçar os músculos sem provocar um movimento ou mudança de ângulo nas articulações mais afetadas pela artrite reumatoide. "Eles podem ser feitos com várias intensidades, que é estabelecida de acordo com as limitações e necessidades de cada pessoa", explica o fisiologista Raul Santo.
Um exercício bastante simples, que pode ser feito em casa, se encaixa nessa categoria. "Como a artrite na mão e nos dedos é bastante comum em mulheres, fortalecer os músculos dessa área previne contra dores e até a perda gradual dos movimentos dos dedos. Amarrar os dedos das mãos com um elástico de escritório comum, e fazer força para tentar forçá-lo para fora, trabalha os músculos das mãos e protege as articulações", diz Evaldo Bósio.
Nesse grupo de atividades físicas estão a caminhada, a dança, subir escadas e pilates. Essa turma de exercícios controla a pressão sanguínea, o colesterol, fortalece o sistema cardiovascular e ainda queimam calorias. Tais benefícios são importantes porque pessoas com artrite reumatoide estão mais propensas a desenvolver doenças cardíacas. Além disso, são exercícios que ajudam a retardar a perda de massa óssea causada pela artrite, diminuindo as chances de osteoporose no futuro.
Essa técnica oriental pode ajudar os pacientes com artrite a aumentar o alcance de seus movimentos, ficar com mais flexibilidade, tonificar mais os músculos, principalmente das pernas, e proporcionar um melhor equilíbrio corporal. Além disso, ao focar na respiração e na concentração, o Tai Chi ajuda a relaxar e esquecer as dores causadas pela doença.
Para todos os esportistas, fica a dica: não adianta exigir mais do que o seu corpo é capaz de suportar. Para quem sofre com a artrite, esse conselho é ainda mais importante. Manter o corpo sempre em atividade impede a recuperação de microlesões que acontecem durante o treino. "O educador físico é a melhor pessoa para dosar o ritmo dos exercícios e as pausas entre eles para atingir um equilíbrio ideal, chamado de supercompensação. Por isso, esse profissional deve saber a gravidade do problema nas articulações para montar um treino que deixem as articulações ativas sem trazer malefícios", diz Raul Santo.