Olá! Tudo bem? Sou a Dani e esse post fala sobre PSICOLOGIA DO ESPORTE ADAPTADO.
O homem, em seus esforços para melhor entender a mais complexa e sofisticada de todas as criaturas, empregou todo tipo de experimentos, testes, descrições e pesquisas na busca contínua de um auto-conhecimento. A sociedade o treinou, preparou, dissecou e experimentou, mas um entendimento do mecanismo de aceitação do eu e de outros ainda o ilude. (ADAMS e col. 1985).
Parece óbvio que um indivíduo funciona satisfatoriamente dentro de seu ambiente quase em relação direta com a sua habilidade de aceitação de outras pessoas, da capacidade dos outros em aceitá-lo e de sua tolerância em aceitar a si próprio. E, obviamente, isto também vale para a pessoa com deficiência.
Na busca do processo do auto-conhecimento, a psicologia, como uma ciência comprometida com a compreensão do comportamento humano e suas características psicológicas, vem estruturar metodologicamente esse processo.
Aliando esse comprometimento com a questão da deficiência e percebendo a prática esportiva como uma possibilidade de integração e inclusão social, que colabora para a reabilitação física, social e psicológica do indivíduo, cria-se a tríade da psicologia do esporte adaptado para apoiar e complementar esse processo.
Antes da Segunda Guerra Mundial, não se conheciam os jogos organizados sobre cadeira de rodas. Tragicamente, esse advento da história da humanidade fez com que os soldados voltassem aos seus países com seqüelas permanentes. A guerra, com todos os seus horrores, trouxe à pessoa portadora de deficiência algo melhor do que ela possuía anteriormente. Eles eram heróis e tinham respeito por isso.
O pós-guerra criou uma situação de emergência, no que se refere à construção de centros de reabilitação e treinamento vocacional, particulares ou pagos pelo governo, em todo o mundo. Como parte de um vasto programa de reabilitação, os esportes, repentinamente, foram vistos como um auxiliar importante na reabilitação dos veteranos de guerra que portavam uma deficiência. Os programas de esporte com cadeira de rodas começaram em vários hospitais de veteranos nos Estados Unidos. As regras e os regulamentos do basquetebol regular foram adaptados para as necessidades específicas dos deficientes. Foram organizados vários times e com isso o basquetebol tornou-se o primeiro esporte em cadeira de rodas da história. (ADAMS e col.1985) .
À medida que o interesse pelo esporte crescia, a quantidade de participantes deficientes também aumentava. Além dos que ficaram deficientes por causa da guerra, havia as vítimas de acidentes, os seqüelados de poliomielite entre outros.
No ano de 1946, o desempenho das equipes de basquetebol em cadeira de rodas despertou interesse e apoio para a realização dos esportes em geral realizados em cadeira de rodas e, o que é mais importante, estimulou aqueles que viram as equipes em ação a compreenderem que uma pessoa deficiente pode ter força, coragem e habilidade para jogar basquetebol numa cadeira de rodas. Na realidade, não há limite para a capacidade de um indivíduo que seja adequadamente treinado, portanto, ele pode ser considerado uma pessoa normal. Esse pensamento foi a espinha dorsal dos entusiastas dos esportes em cadeira de rodas. (ADAMS e col. 1985)
A América do Sul entrou na arena dos esportes adaptados no final da década de 50, após uma epidemia de poliomielite que atingiu a região em 1957. Em 1960, após as Olimpíadas de Roma, realiza-se o encontro de atletas dos esportes em cadeira de rodas, iniciando-se, assim, as Paraolimpíadas, o segundo maior evento esportivo do mundo.
O esporte é um dos fenômenos socioculturais mais importantes do século XX, mobilizando um grande número de pessoas, materiais, instalações e recursos financeiros, de acordo com Cruz (1989, apud Becker e col. 1998). Para que todos estes recursos possam ser multiplicados, é necessário o sucesso nas competições e este está baseado na produção do atleta.
Becker (1998) afirma que, no esporte, há um momento em que toda a responsabilidade está nas mãos de um só atleta, e este tem a noção da responsabilidade que incide sobre ele e o ato motor que irá executar dentro de alguns segundos. Um destes momentos, por exemplo, é o da execução de um lance livre no basquetebol, em períodos cruciais da partida. Durante o lance livre, o atleta tem alguns segundos para tomar a postura prescrita no regulamento, fazer alguns ajustes táteis com a bola, regular sua ativação interna, bloquear os estímulos ambientais que o perturbam, colocar toda sua atenção no objetivo (fazer a cesta) e, finalmente, realizar o arremesso. Numa situação estressante como esta, os atletas podem apresentar diferentes reações de sucesso ou fracasso.
Uma observação que tem chamado muito a atenção dos treinadores é a diferença de rendimento que alguns atletas apresentam, comparando-se os períodos de treinamento e de competição.
A preparação de um atleta é composta por fatores físicos, técnicos, táticos e psicológicos. Embora estas quatros áreas sejam reconhecidas como importantes para aumentar o rendimento esportivo, devem ser apontadas algumas particularidades. Em primeiro lugar, temos a capacitação e atualização do treinador e, segundo, o equilíbrio psicológico dos atletas. Becker (1998) nos lembra que devemos levar em conta um fator muito importante que é a individualidade, pois cada um tem uma percepção do ambiente que o rodeia. Essa percepção varia de acordo com a personalidade de cada um, podendo haver, portanto, reações diferentes a situações semelhantes.
A questão esportiva incutiu nos pesquisadores o desejo pelo conhecimento sobre o movimento, o comportamento motor. Porém, com o passar dos tempos, notou-se que não apenas o corpo necessitava de um equilíbrio, o que comanda esse corpo também precisava estar envolvido nesse processo. O equilíbrio corpo e mente já se faz presente em quase todas as classes científicas. (CRATTY, 1984).
A personalidade será essencialmente concebida como uma unidade, uma totalidade dinâmica, cujas particularidades cognitivas (relativas às operações do conhecimento: percepção, inteligência, memória), afetivas (relativas à vida emocional, aos sentimentos e ao nível do vivido propriamente dito), conativas (relativas aos fenômenos da vontade ou esforços voluntários) e físicas (relativas ao próprio corpo e ao seu substrato biológico) estão em interdependência. Assim como não há operações intelectuais sem a implicação de sentimentos de êxito ou fracasso, prazer ou aborrecimento, também não existem esforços físicos sem intervenção das discriminações perceptivas e de fatores motivacionais ou de sentimentos. (THILL, 1989)
O ser humano é um ser de desejo e pulsão (FREUD, 1973). É atraído para finalidades invisíveis e tende constantemente a ultrapassar-se. Sendo assim, podemos considerar a afetividade como elemento dinâmico ou energético da personalidade, ou seja, como um conjunto de móbiles que desencadeiam e suportam a ação do indivíduo. (THILL, 1989)
Esses desejos não se diferenciam nas pessoas portadoras de deficiência, que vivenciam as diferenças impostas pela sociedade e se vêem na contingência de superar o estigma que as acompanha. A possibilidade de unir a prática esportiva ao processo de inserção e integração social é um bom indício de que a sociedade está buscando superar as barreiras invisíveis que ela mesma colocou na história do seu desenvolvimento.
No Brasil, os dados estatísticos existentes não são compatíveis com o real número de pessoas portadoras de deficiência, lembrando que aproximadamente 10 mil pessoas ficam deficientes por mês em nosso país. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que 10% da população de um país sejam de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência e que essa porcentagem pode chegar aos 15% em países subdesenvolvidos .
Frente a esses números alarmantes, e com a preocupação da inserção e integração social, busca-se caminhos, além da reabilitação física, que facilitem e fortaleçam a personalidade da pessoa portadora de deficiência. O esporte adaptado é um desses caminhos e vem ganhando espaço, credibilidade e respeito, não somente por parte do próprio portador de deficiência como também da sociedade.
Para o portador de deficiência, a prática esportiva possibilita o conhecimento e a vivência do significado da superação de limites e a confirmação de que ele pode conquistar e viver esse prazer. Esse é um simples convite à vida!
(*) Eliane Assumpção - Psicóloga formada há 15 anos, Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista no Atendimento de Pessoas Portadoras de Deficiência pela Universidade de São Paulo. Professora de Psicologia Universitária da Alphacastelo. Coordenadora do Depto. de Psicologia da ADD - Associação Desportiva para Deficiente e Psicóloga do Clube Desportivo Magic Hands. Endereço para contato : eliane.a@sti.com.br ou pelo Telefone (0xx11) 3862-7143
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